domingo, 19 de dezembro de 2010


"O pensamento pedunculado buscava o teto das coisas. Era um sexo erétil e complemetos. Movimentos escorriam como precisamente calculados, nem eram, era sintonia riscada entre um olhar e outro.
Cada enzima parecia morar no outro corpo, desabotoando perfumes no intuito de atrair. Daí o radar daquele pensar batizado de paixão. Conexão entre toques e quimioreceptores que dilatam as retinas, contraem os músculos e irrigam os tecidos com tantos fluidos que, na enorme euforia, as células se dividem. Meiose radicada no gosto dos lábios de quem beija a flor.
Abdução de vontades, bate na porta da imaginação e tenta conseguir uma chamada virtual no campo minado das sentimentalidades. E nada é precipicio quando o que se quer é peito acelerado e complemento.
O cérebro desce pro lugar do coração, que por sua vez, cai dentro do estomâgo com duzentas borboletas flutuantes, dançando nem aí pro suco gástrico da vida.
Uma ligação e está tudo confirmado, vai começar uma nova estória na vida dela. E quando eu vi aquele brilho nos olhos, me senti personagem de seriado mexicano, suspeitando desde o principio.
Que seja encaixe."

by Guana Dias

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

"as amendôas pavimentam os azulejos tardios que, apenas depois, ao sair do ofurô, ele iria percorrer/ a leveza daquela roupa inexiste, que flutua como lençol macio, e os abraços dela que, tão simples, acobertam minha... saudade/ a isso tudo, saúdo com ´boa-noite´, digo, amorosamente - e já não consigo ter fé em mim/ envolto no cheiro dessa mulher, que vai se tornando louça nos meus varais/ aqui, encontro certa paz de um sonho que não cabe em noites de sexo tórrido/ só preciso desse espectro que, certamente, não é o dela./ -- ´porcelana nos braços dele, e não há paixão e beleza nos olhos de... mais ninguém´, repito, respiro, insegura de mim mesma/ Repito, convencida, enquanto durmo, embriagada/ Não é por ele/ Fini. Com ele."

(Poema Maracaba, André Feitosa, 8.Dez/10)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Entre o silêncio e o grito as vezes muito mexe e se remexe.
Noutras nem dá tempo.
É muito louco ver coisas tão grandes se tornando bem miudinhas, assim como o que nem se enxergava antes tomar dimensões absurdas.
Entre o silêncio e o grito tem tanto suspiro, gemido, sussurro.
Tem tanta interrogação, exclamação, reticências.
Euforia, melancolia, vertigem, alegria.
Estados alterados da mente, já diriam os Titãs.
Entre o silêncio e o grito sinto uma tranquilidade duvidosa, uma raiva fumada até o último trago, uma inquietação bebida em longos goles.
Os livros mudam de lugar na prateleira tão rápido quanto minhas dúvidas são feitas, desfeitas e refeitas.
Entre o silêncio e o grito eu dou muita risada com meus amigos, muitas lágrimas pro sofá da sala da minha terapeuta, muito dinheiro pra Nestlé, muita tinta pro caderno e muitas letras pro computador.
Tem muita música, tem muito sonho.
Muito choque com a realidade e muita fantasia.
Entre o silêncio e o grito o tempo ora se arrasta ora corre demais.
De toda maneira eu me atraso.
O movimento do corpo não condiz com a hiperatividade mental.
As vezes penso torto e nem todo torto é errado.
"Se meu pai fosse mulher" eu sei que "eu teria duas mães", mas não consigo viver sem um "se".
Sem um si
[mesmo]


RÁ..!..!...!...!


(psiu)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Na dúvida, ele deixou a mochila arrumada no porta malas.
Sabia que não ia mais usá-la, mas não conseguia tirá-la de lá.
Não queria usá-la mais, sua cabeça não permitia, mas a mochila continuava lá, intacta.
Nela uma toalha, uma roupa, escova de dentes e um desodorante.
Quando estava colocando as coisas dentro dela, cantarolou, como há muito não fazia.
Estava feliz, numa tranquilidade absurda. Fez aquilo como se já tivesse feito muitas vezes, mas era a primeira. Sentiu como se ainda fosse fazer muitas outras ainda. Cantarolou mais um pouco.
No meio do caminho se inquietou, depois de um tempo, mudou de idéia. Mas nada disse.
O estômago embrulhou.
Gritou, calou.
Deu meia volta, pra casa. Se jogou debaixo do chuveiro, só usou água, nada mais. Se deitou na cama, se agarrou com o travesseiro e dormiu.
Não abriu o porta malas, muito menos a mochila, nem no dia nem nos que seguiram.
Queria ir lá, pegar suas coisas e jogar no armário, mas não conseguia.
As vezes esquecia.
Lembrava, pensava, sentia.
Pensava em como seria se tivesse aberto a mochila.
"Pra que, pra que? Só pra guardar tudo sujo de volta nela?"
Cansado, paranóico, foi tomar whisky com seus amigos. Eles com certeza fariam com que ele se sentisse melhor, eles deveriam pensar como ele.
Engano.
Os dois o chamaram de otário.
- Porra, mermão! Vai deixar essa mochila fechada pra sempre?!Abre essa porra logo, usa! Depois lava se necessário!
Pensou que era fácil pra eles falarem, não seriam eles a ter que lavar tudo depois. Na verdade..Eles já estavam acostumados a fazer isso. Mas ele não.
Ele tinha pânico de sujeira e mais ainda de sabão em pó.
Foi pra casa bêbado, faltou o trabalho no dia seguinte. Na hora do almoço foi pra uma reunião. Quando entrou no carro pra ir embora decidiu que ia tirar logo aquela mochila do porta malas, ia guardar tudo no armário.
Não conseguiu. E se ele precisasse mais tarde daquelas coisas e ela não tivesse mais lá? Não fez nada.
O nada costumava ser cômodo pra ele, por que diabos não era mais?
"Ele sofre do pensamento."
A mochila continua lá...Tanto tempo depois.
Talvez um dia, quando ele decidir usar a roupa que está dentro dela não tenha mais pra onde ir com a mesma. Pode ser também que não caiba mais.
Mas ela está lá, assombrando sua mente.
Eu queria dizer pra ele parar de besteira e resolver isso logo antes que seja tarde, mas tenho medo de ser culpada por uma torturante lavagem de roupas.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

eta.

Hoje, finalzinho de outubro, no finalzinho de 2010 eu tava dirigindo e ouvindo música..Fiquei prestanto atenção no Lulu Santos cantando "Tempos modernos". Já agora..em outros tempos depois desses, que ninguém consegue definir bem ainda.
Ele dizia: "Eu vejo um novo começo de era de gente fina, elegante e sincera. Com habilidade pra dizer mais sim do que não (não não..)."
Mas Lulu, meu broder, nós temos uma habilidade incrível de dizer é qualquer coisa, sem nem saber do que estamos falando e nem porque. Do mesmo jeito (des) dizemos com muita segurança, sem sabermos porque. Você não falou que hoje o tempo voa e escorre pelas mãos? Pode crer...Não é só o tempo não. São todas as nossas (in) certezas, (falta de) opiniões, (des) valor [es; izações].
Ando falando em subversão esses dias, enquanto todos falam sobre política (volto a dizer, fico impressionada com a quantidade de pseudo intelectuais políticos essa época do ano, e acho interessantissimo que a competição seja acompanhada pelos espectadores como um esporte, pouco depois da copa)...
A maneira como nos apropriamos das idéias alheias sem as termos entendido bem é hábito. Entendermos bem mas distorce-las também, mas isso é pra poucos, o resto é enrolado por esses com o maior prazer e depois reproduzem por aí o que ouviram e não entenderam.
Eu leio Kierkegaard e humanamente me desespero.
Vejo o jornal e humanamente me alieno.
Assisto a novela e humanamente me anteno.
Assisto o tropa de elite 2 e humanamente me revolto.
Escuto o garçom abrindo a cerveja e humanamente me alivio.
Acordo atrasada e humanamente sinto culpa.
Penso na vida e humanamente quero deixar de ser humana.
Leio Antonio Risério que diz que o ser humano é o engano do humano. A Clarice me diz que viver não é vivível..
E eu me encho e me esvazio de informações. Na leitura, na escuta, na vista, fina ou grossa. Com todos os sentidos em todos eles. Sinto.
[Muito]
Corro de um lado pro outro pra me agarrar em certezas que rapidamente se derretem e o jeito é me agarrar na mais próxima ou ir flutuando por mais tempo até um oposto que me atraia. E eu me distraio.
Sorrio, gargalho, agrado.
Eu sou pós-humana.
Eu me escondo, me desagrado, encolho, encalho.
Eu sou pós humana.
Eu não paro.
Eu penso bem e mal penso.
Eu me dispenso.
E me despeço.
Despedaço
Dispersa
Imersa
Cheia
Oca
Um caco
Opaca
Sem alça
Fora da alçada
Na calçada

Acompanhada
Num punhado.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

União


Sonhei estar numa cidade fantasma, conversando com mortos pensando que eles eram (pelo menos) semi-vivos.
Acordei numa rede dentro de um quarto abafado, saí pra respirar ar puro, mas só veio poeira.
Tive medo de uma cabra que me olhou com estranhamento, o mesmo que tive em relação a ela, que dias depois foi oferecida pelo seu dono ao meu colega, que a recusou.
Passei alí uns dias, ouvindo e tossindo, fumando Hollywood - O cigarro do sucesso, ouvindo histórias de má sorte e boa fé.
Conheci um homem de 38 anos que sonhava em voltar a correr e brincar;
Uma parteira que era um grande livro negro ambulante;
Uma senhora que uma vez sentiu uma tontura e nunca mais se equilibrou sem ajuda farmacológica;
Um senhor "gato" cantor, que me arrancou lágrimas e sorrisos;
Bêbados tropos e tropos sóbrios.
Entrei numa casa onde no passado seis pessoas se arrastavam e de lá me arrastei até meu temporário lar, onde me deitei num chão empoeirado que fez meu choro sair pelo nariz.
Ouvi sobre as estrelas e as rezas; Debaixo do mesmo teto convivi com uma mulher extraordinariamente chata e sua pupila, com outras encantadoras, com três homens tão diferentes e agradáveis; Cantei uma música que levou ao pranto duas mulheres doces que lá conhecemos...
Passei a admirar mais uma virginiana em minha vida, com os arianos senti cumplicidade, com as aquarianas me diverti, do geminiano acabei levando o isqueiro e fui um pouco iluminada com sua luz e seu silêncio tagarela...
Perdi alguns preconceitos, vivi experiências fortes, emoções intensas, envelheci um pouco. Escutei, ouvi, escutei, ouvi, absorvi e expurguei.
Apatia e simpatia, uniões complicadas e complexas.
Não dá pra viver algo de verdade sem se colocar dentro de fato.
Eu me implico e me complico.
Abri mais minha mente, mas no último dia optei por usar um boné pra segurar o juízo.
Voltei com sinusite, bronquite e um pouquinho mais evoluida.

domingo, 5 de setembro de 2010

"A origem"


Me parece que não há nada mais inconveniente que a Realidade e, esta, me parece tão duvidosa quanto a sua mafiosa prima: a Verdade.
“A origem” é um filme de tirar o fôlego. Não só pela presença de inesgotáveis cenas de ação, mas pelas angustiantes interrogações que se fazem presentes mesmo durante as mais agitadas cenas, onde em outros filmes geralmente não há espaço pra nenhuma reflexão durante tanto excesso de movimento.
Saí do cinema meio tonta, perdida, sem saber ao certo o que era real ou não e questionando se o conceito de realidade era mesmo real.
Essa subjetividade da vida, essa virtualidade experimentada por nós quando dormimos ou estamos acordados me parece ser o nosso central objeto de estudo e interesse, nós, estudantes e/ou profissionais de Psicologia.
Quanto a dormirmos ou estarmos acordados, vivermos ou sonharmos, creio que não pode ser determinado com certeza, esta que para mim parece ser a grande utopia humana.
Na busca do concreto, abrimos mão de grande parte da potencialidade da vida.
Felizes os loucos, que não se prendem à nossa insossa “realidade”.
Uma vez li que “a realidade é uma muleta para aqueles que tem medo de andar sozinhos com os próprios pés”.
Voltando ao filme, que na sessão de sábado a noite foi tão longe na ficção (?) que fez o casal ao meu lado sair da sala na metade dele e, depois deles mais umas seis pessoas não darem conta e irem embora.
De fato, não sei quantos de nós não enlouqueceriamos se tivéssemos acesso a toda a pluralidade de realidades como as do longa metragem em questão.
Fico aqui pensando se nas psicoterapias tradicionais o que ocorre na verdade é trazer de volta os seres angustiados à “realidade”, tornando-a mais confortável a quem por algum motivo se perdeu nela ao subjetivá-la demais. Neste ponto me questiono se o cliente não deveria trocar de lugar com o terapeuta.
Acho que não damos conta da dimensão da diversidade da (s) realidade (s) e corremos para os “braços” uns dos outros a fim de não flutuarmos. Sair do concreto não é fácil, mas se manter nele requer bastante trabalho e manutenção e, ninguém melhor que os psicólogos para dar uma “mãozinha”.
Somos, aos mesmo tempo, cegos e bengalas, e assim vamos caminhando, tateando realidades ilimitadas e aceitando apenas uma pequena parte delas, quando elas se tornam ela. Singularizamos o plural.
Tudo o que acontece na mente é real, mas aprendemos que o que não é palpável e inteligível não o é. A concretude é nossa algema. Aspiramos e sonhamos com a liberdade, mas morremos de medo dela.
A razão nos foi dita como libertadora, mas não vejo nada mais capaz de nos aprisionar.
Mas sigo por aqui, numa realidade limitada, pois não dou conta de ser “louca”.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Eu, eu mesma e o blecaute da Coelce


- Puta merda!Faltando energia no bairro todo, como é que vou descer do carro e abrir o portão??E se tiver um ladrão que não tou vendo?!
- Calma, liga a luz alta, olha bem...olha alí!O vizinho tá te dando sinal com o celular, deve tá dizendo pra tu entrar que ele tá olhando, qualquer coisa ele liga pra polícia.
- Ele tá sacudindo o celular!E se ele tiver dizendo pra eu não entrar? Que tem alguém?
- Vai!
- Devia ter ficado lá na Dandara!
- Vai voltar? Nem gasolina tu tem pra chegar lá!
- Ai meu Deus, ai meu Deus! Vou!Ai meu Deus..eu não acredito em Deus, e agora? Se ele existir e não quiser me ajudar já que nunca acreditei nele?
- Se ele existe, se ele é mó limpeza como dizem..Ele vai entender e ficar feliz porque você enfim chamou por ele. Ele não é superior a nós? Então...Vai.

Abro o portão.
- Vaaaai, corre!
- Fecha, fecha!

Fechei.

- Casa escura da porra..Ai que medo.
- Medo de que?
- Sei lá.
- Acende o isqueiro.
- Num tem nenhuma vela nessa casa, afff!
- Mamãe deve ter alguma perto do altarzinho dela.
- A louca que vou lá! Morro de medo daquelas imagens.
Click
- Tenho que beber água, senão a ressaca vai ser foda.
- Porra, tá queimando meu dedo, vou no escuro, já conheço o caminho.
- Ai que medo, ai que medo!
- De que?!
- Espírito, demônio, sei lá!
- Desde quando tu acredita nessas coisas?!
- É mesmo, é viagem da minha cabeça. Frescura é essa agora? Aaaai que medo!
- Ufa! Entrei no quarto!
- Vou colocar meu celular pra carregar, assim fico com a luz dele.
- Que bixa burra! Como é que carrega sem energiaaaa??
- Caramba...Só quando ela falta que a gente percebe o que vem dela e o que não vem.
- Quando eu era criança não entendia porque que quando faltava energia não faltava água.
- Burra.
- Sei lá...Tudo precisava de energia!
- Dorme.
- Que barulho foi esse?!
- Vento nas plantas.
- É ladrão!
- São as plantas!
- É ladrão nas plantas!
- Já viu um pé de ladrão?
- A Bia já viu o pé de um ladrão nas plantas.
- A gente tá tão acostumado com a tecnologia que tem medo dos barulhos da natureza, buzina de carro ninguém se assusta!Mas planta dançando ficamos com medo...tsc tsc.
- É chuva? Tomara que seja chuva! Assim esse calor passa!
- E vai deixar a Nina na chuva? Vai ter que descer no escuro pra abrir o portão pra ela.
- Tomara que não seja chuva! Tomara que não seja chuva! Ai meu Deeeeus.
- Lá vem tu falar nesse cara de novo.
- Não pensa assim, ele pode ouvir. Dizem que ele escuta até pensamento!
- Eu acredito em Deus, eu acredito em Deus, eu acredito!!!
- Deixa de ser mongol, ele não existe, nem espírito, nem tem ladrão lá embaixo!
- É mesmo, né? Tou viajando..O que dá medo não é o escuro, é a ausência de luz.
- Redundante.
- Nã-nã-não.
- Que barulho é esse? Que barulho é esseeee?!
- Fecha a janela!
- Dorme, dorme, dorme!!

" I used to be schizophrenic, but we're ok now."

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Fui parar no Pará a pé.

Ah mas eu vou contar que eu tive lá pelo Pará..
No Tucupi desci a mão, mas não quis saber do Tacacá.
Em Benevides fui no Casarão da finada Santa Paula, passei pelo Bar do Ceará e dobrei no Raio de Luz. Conheci um cara chamado Sol e com sua filha Eva me pintei de índia.
Uma cidade sem Coca-cola, mas com Igreja Universal. Tomei um Fly com gosto de cachaça. Da feijoada comi apenas o feijão e o porco morto com certeza teve uma vida muito feliz. As formigas me ignoraram e eu me encantei com uma galinha de botas.
Em Belém ouvi uma paraibana falar de Paulo Freire e educação popular, questionei a ligação entre educação e regulação.
Diretrizes, PPP, ênfases, crises...Ouvi que ser crítico é muitas vezes sinônimo de ser chato. Concordei. Um cearense baixinho e invocado falou que na universidade se aprende a ficar calado.
Falamos sobre saúde pública e compramos ervas no Ver o Peso. Bebemos num bar onde moças de família não bebem e me protegi da chuva lá, numa casinha sem janelas.
Saudação Ananindeua.
Fomos pra Icoaraci com meu amigo, um ex hippie que ainda ta nos anos 70.
Do tecno-brega por algum tempo conseguimos fugir.
Então vamos lá falar sobre direitos humanos, diversidade sexual e homofobia..Me diz o que você faz com a faca, afia ou enfia?
Da Chiquita eu quero ser filha!
Saúde mental, luta antimanicomial...Conheci um tripolar que não gosta de aviões.
Com o frentista fiz amizade em Mosqueiro, comi a melhor tapioca que já provei até hoje, virei o Taz.
Deixei as máscaras e auto-repressões em casa, ouvi de uma carioca que sou carismática.
Cuidado com o uso insustentável dos meios de sustentação da vida.
Em "Vai quem quer" fui uma estrela do mar, um peixe palhaço e um mandão num “mar de água doce”.
Lembrei do meu avô, fiz amizade com um vira-lata e a ele dei o nome de Kelvin.
O carioca foi confundido com baiano, o paulista era gente boa porque morava no Rio, vi o Catatau e cantei Belchior.
Quem lida com a saúde mental de quem lida com a saúde dos outros?
Vi um filhote de tigre, macacos engraçados, com a políciapeguei carona, andei num pau de arara puxado por um trator, num barco onde não podia fumar enlouqueci, em rodas de conversa se fui tímida um dia me esqueci.
Fui numa festa ao avesso, onde a Pícara Sonhadora parecia a Pokahontas e na água a Juma Marruá. Mas quem ganhou o concurso foi minha amiga Consuelo, com quem fiz uma paródia de uma música da Lady Gaga (a gata ta mesmo em todo lugar).
No rio não podia pular, a Denise não jogava ponta de cigarro no chão, minha barraca alagou e passei a ter uma banheira de hidromassagem, dormi numa sala com mais 20 pessoas e lá fedia a cachaça com mau-hálito, peguei no sono enquanto ouvia um sexo selvagem.
Conheci muita gente e um pouco mais a mim mesma.
Voltei pra Fortaleza pensando que tudo ia estar do mesmo jeito, mas ta tudo diferente.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sentidos

Sentido, sentindo, sensitivo, sensitindo, sem sentido, sensível, acessível, perecível.
O mundo continua gripado, doente e ao contrário como há muito nossos cantores brasileiros dizem, mas, para mim, esse nosso mundo idoso e sequelado tem se mostrado completamente novo, um bebezinho.
Nos últimos anos me senti uma retardatária em relação aos outros e ao que era de mim (e por mim) esperado. As decisões foram proteladas, as atitudes adiadas e eu andava por aí em passos ébrios.
Esse ano de 2010 tem sido mágico e eu vejo que eu não estou nem um pouco atrasada, mas precisamente no tempo certo. E, se for mesmo necessária alguma comparação, em alguns sentidos ando bem adiantadinha.
Parece mesmo que a vida tem uma fluidez involuntária e nós, seres burramente humanos, ao tentar tomar o controle de tudo atrapalhamos esse fluxo.
Sempre desconfiei do acaso e, essa palavra me parece ter sentido dúbio.
Pode-se dizer que as minhas duas maiores decisões desse ano foram tomadas por acaso (seja em que sentido for) e elas tem me levado a vários outros.
Há quem diga que foi obra divina, sorte, destino..Mas eu tenho mais com o que me ocupar nessas minhas desocupadas férias do que procurar o sentido disso.
Objetividade nunca foi o meu forte, mas a subjetividade, diferente do que me foi pregado a vida inteira, tem o seu charme e também nos leva a vários lugares.
Ao acreditar que só havia um jeito de agir corretamente, fui pro que pode ser considerado o oposto. Hoje vejo que não há só dois lados, que o certo e o errado variam muito, e que eu posso transitar por onde for.
De um jeito muito torto (assim como minha escrita) tenho começado a fazer as coisas "certas" da minha maneira.
Adjetivos são preconceituosos, verbos são deliciosos [Acho que já li algo do tipo em algum lugar].
Substantivaram e eu, neologizarei.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Mente truqueira

É mesmo quase in-crível o que nossa mente é capaz de fazer.
E o insight que tive essa semana iluminou foi tudo.
Sempre fui a rainha da negação e da repressão. Acho que o hábito de esconder brinquedos do meu irmão pra irritá-lo resultou nesse talento (inútil?) de jogar as coisas em lugares onde nem eu mesma posso achar as vezes.
Desorganizei pra me organizar ou na tentativa inútil de me organizar desorganizei tudo? Diz ae, Chico Science!
E eu tenho achado pedaços de um objeto que aos poucos vem tomando forma e sentido.
No que ele vai ser tornar mesmo ainda não sei, mas já me parece uma das coisas mais necessarias que eu estou voltando a possuir.
Há muita confusão por aqui, penso que sempre vai haver, mas assim como meu quarto..No fim das contas há algum tipo de organização, por não haver muito intermédio de quem tentou tomar controle de tudo e se descontrolou.

domingo, 27 de junho de 2010

Dormi com o sol queimando e acordei quando ele ia embora.
E pra mim tanto faz se quem ganha é Argentina ou México, ainda ouço o solo daquela guitarra agoniada e assombrosa na minha cabeça.
O vento, raivoso, quer levar tudo.
Derruba o copo, me molha de cerveja, balança a mesa e eu só quero chacoalhar as cadeiras.
Cadê você, Catatau?!
São as vozes na minha cabeça, Dr.
O amigo que virou flatmate que virou outra coisa tem seu rosto perdido na multidão desfocada, desfacetada, destemperada.
A luz do poste na face dela evidenciando tantos pontinhos brilhantes..
E ele grita: "Deus é uma viagiii".
O pânico de multidão nem se pronuncia. Eu quero é o calor, o suor e a perturbação compartilhada.
Tarantino! Dirija minha vida! Eu dou conta, sou geminiana!
E tá tudo decidido, antes de me formar serei puta por seis meses na Suiça!
Vamos lá, Três na massa, falta água e sobra ar, não taca fogo que aqui já tem demais.
Aqui há a segurança de que todo envolvimento é mesmo inseguro e descontrolado.
E quem quer saber?
Chame minha amiga pé no chão que a minha cabeça tá quase voando.
E não, eu não quero nenhum de vocês, o meu Marlboro que me aguenta.
Se o meu corpo é só informação, a arte em mim escrita é puramente dadaísta.
O nonsense, aqui, é confortável. Onde todos estão perdidos mas não querem voltar pra casa.
Marionetes foragidas, com causa e sem muita rebeldia. Dancemos..Pelo menos enquanto as pupilas estiverem dilatadas e o espetáculo for por nossa conta.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Debaixo da cama

A velha criava um bode
De dia agonia, o telefone tocava, o cachorro latia, a vizinha cantava e a velha dizia:
"Ai meu deus se acabou tudo...tanto bem que eu te queria!"
A velha em cima da cama
Debaixo não pode, o celular off, o status invisível, o livro maldito, a porta fechada, o livro bem - quisto, apalpa o cisto, a TV no mudo, a cabeça no mundo e a velha dizia:
"Ai meu deus se acabou tudo...tanto bem que eu te queria!"
A velha odiava o gato
O gato miava, fazia estripulia, azunhava o braço, o cigarro a barata roía, o ventilador girava, por pouco caía, o consolo ganhou nome, o homem virou consolo, e a velha dizia:
"Ai meu deus se acabou tudo...tanto bem que eu te queria"

segunda-feira, 21 de junho de 2010




E a dor que mói que dói que desconstrói um mói e um mol que desmolda e prende e solta que desorganiza apura impureza e espanta leveza.
Assusta e choca ignora e volta e grita e espanta serotonina e chama e clama adrenalina e esvazia a euforia e expurga captura perdura e perde engole vomita aspira e espirra.
É dengue e não só melancolia. Sangra mas não é hemorragia.
(Des)vincula, (des)conecta, (des)ameniza, (des)civiliza, desvirtua, virtualiza, subjetiva.
E o pulso, Arnaldo, pulsa.
O impulso expulsa, salta e escapole.
E eu durmo.
(durmo?)
E acordo.
(acordo?)
E sonho.
(penso?)
E tenho pesadelos.
(sonho?)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Numa ilha distante


Som de despertador.7:50 da manhã.Ronco masculino.Preguiça.Frio.Água quente.Sabonete cheiroso.Lembrar:Uma perna,depois a outra.Pi:O pão tá torrado.Ah!A louça pode ficar pra depois.Casaco cinza de novo.Frio.Nenhuma busina.Nenhum boeiro entupido.Uma japa se espanta com tudo.Vento.Um Maori olha torto.Sol.Uma árabe esconde o rosto.Good Morning.Talk.Try.Talk.Comentário coreano,resposta russa,risada brasileira,repreensão chinesa,olhar desconfiado argentino,espanto japones,risada brasileira.Cigarro caro fumado até o filtro.Frio.Um brasileiro cumprimenta com sopro no ouvido.Olhar cúmplice.Talk.Try.Talk.Fome.One number 3,no salad,no katchup,diet coke,no ice.Eat here.Segundo cigarro.Caro,até o filtro.Talk.Try.Talk. tu tu tu tu tu.Sinal verde pra pedestre.Trânsito invertido.Pessoas educadas.Casa.Lauryn Hill.Alguém tem roupa escura pra lavar?Risada feminina.Peido masculino.Cheiro de marijuana.Bong aceso.Timtam. "Esse é o melhor biscoito que já comi na vida" "Nossa..você sempre diz isso." Pergunta de uma mexicana em inglês,resposta em português.Risada universal.Frio.Capuccino queima a ponta da língua.Cigarro gostoso.Mas é caro,fumado até o filtro.Academia pra nao voltar obesa pro brasil. Sorry. Thank you. Sorry. Thank you. Voce é bem vindo.Água fria, alguém tomou banho demorado.Seriado em inglês.Risada carioca.Implicância cearense.Risada.Visita.Som de beijo.Grito no gol.Queijo gostoso.Cigarro caro,fumado até o filtro.Filme em inglês,legenda em inglÊs.Mais fácil.Frio.Sono.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Apalpando o impalpavel


Eu quero uma foto da minha alma.

Eu quero um autógrafo de quem objetivar a ciência da subjetividade.

Eu quero uma representação gráfica neurológica minha de quando eu descobri que meu pai não era um herói, mas um crápula.

Chega de metáfora! Eu quero apalpar o impalpável.

Querido Freud, justifique-se!

Chame um neurocientista e desate os nós, a tua ciência é filha da dele.

Escute meus neurônios, Dr. Freud...

Vamos acabar com o mistério. Por que o cérebro pode ter segredos e o estômago não?

Por quê que a mente mente?

Cara Neurociência, controle sua filha, ela não justifica o que diz.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Assombro


Ela levou anos pra construir uma espécie de muro que a protegesse da realidade nua, crua e cruel do mundo.

Transformou pequenos problemas do cotidiano em problemões, mantendo-se assim ocupada, imune ao que, de fato, era grande.

Eis que um dia aparece alguém, habilidoso com as palavras, que com metáforas deu a volta, achou uma parte vulnerável no concreto e derrubou o muro.

Ela caiu, olhou ao redor e o viu.
Ele a encarou, e mesmo sentindo que ele conseguia ver sua alma ela não conseguiu desviar o olhar.

Assombro.

Ele gargalhou e foi embora, sem ouvir seu pranto (ou feliz com ele).

Desde então escuta os gritos desesperados do mundo. Lembra frequentemente da porta dos desesperados do Sérgio Malandro com um outro olhar.

Símbolos, sinais, ícones...
A semiótica que ela sempre ignorou a assombra diariamente.

Vertigem.


Um pé na intelectualidade, outro na paranóia.

Fez uma visita ao inferno, olhou para o diabo e ele era a cara dela.

De vez em quando visita o demolidor da sua paz.
As vezes o xinga, outras o agradece.
Ora sorri para ele, ora mostra os dentes como um cachorro raivoso.


E agora procura desesperadamente pela beleza de Pérsefone no reino de Hades.